Em negociação com a Comissão de Organização dos Empregados (COE), o Santander não apresentou respostas razoáveis e muito menos soluções para problemas detalhados em uma pauta em posse do banco desde o dia 22 de julho.
Na reunião realizada virtualmente na tarde desta quarta-feira (4/8), os representantes dos trabalhadores cobraram mais contratações, respostas para descontos relacionados à gastos no plano de saúde feitos diretamente na conta corrente dos bancários, retorno ao trabalho presencial e utilização do WhatsApp Business.
Mais contratações
A COE, que representa os trabalhadores nas negociações frente ao banco, enfatizou a urgência de mais contratações, devido ao grave quadro de sobrecarga de trabalho causado por falta de funcionários.
Foi enfatizado que os lucros do banco aumentam a cada período, assim como a carteira de clientes. Em contrapartida, o número de bancários está sendo reduzido – pela primeira vez desde 2012 o Santander possui menos de 45 mil bancários, em um contexto de aumento de pressão pelo cumprimento de metas abusivas para obtenção de lucros cada vez maiores, o que está resultando em uma epidemia de adoecimentos relacionados ao trabalho.
O Santander alegou que promoveu duas mil contratações. O número foi questionado porque o último balanço do banco mostra que houve apenas 78 contratações no semestre.
“Essas duas mil contratações, se realmente ocorreram, foram de trabalhadores terceirizados e não de bancários. Ou seja, o Santander está fatiando trabalhadores por categorias, retirando direitos, precarizando cada vez mais o trabalho e é revoltante o banco alegar, em mesa de negociação, que a automatização e a mudança de processos internos dentro das agencias resultou em redução de trabalho para os bancários, porque não é isso que constatamos diariamente. As agências estão lotadas e os trabalhadores estão sobrecarregados e cada vez mais adoecidos”, disse Lucimara Malaquias, coordenadora da COE Santander e diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região.
Assistência médica de trabalhadores afastados
Muitos trabalhadores tem procurado o Sindicato porque o Santander passou a fazer o desconto do convênio médico em conta corrente, e não em folha de pagamento. O banco alegou que isso só ocorre quando não há saldo na folha de pagamento, e que, no seu entendimento, sempre que utilizado, o convênio médico precisa ser pago. ou seja, é uma relação de consumo.
A COE respondeu que esses trabalhadores já estão numa situação extremamente delicada de adoecimento e não é uma opção usar o convênio médico. Os trabalhadores são obrigados a usá-lo. É uma situação que está acima da escolha e é justamente nesses momentos da vida que eles utilizam mais o convenio médico, e que, ao contrário do trabalhador, o banco tem total condição de arcar com esse custo durante esse afastamento sem complementação e só efetuar esses descontos quando o trabalhador retornar ao trabalho com os devidos parcelamento que facilitem a vida do trabalhador.
O argumento aqui é humanitário. O trabalhador está adoecido, na grande maioria das vezes por causa do trabalho exercido no banco. Portanto, o banco tem responsabilidade e total condição financeira de ajudar o trabalhador nesse momento.
O banco alega que é responsabilidade do funcionário ter a previsão desse custo e, portanto, ter dinheiro em conta para efetuar esse pagamento. Os representantes dos trabalhadores discordaram da justificativa e o RH se comprometeu a retomar a discussão interna no banco e dar uma resposta sobre este tema nos próximos dias.
Retorno ao trabalho presencial
O Santander informa que, a partir da segunda quinzena de agosto, fará o retorno gradual dos trabalhadores para atividades presenciais. Permanecerão em casa os trabalhadores de maior risco, mesmo os que tiverem sido vacinados com as duas doses.
Os representantes do banco disseram que não é possível informar o percentual de retorno presencial agora, porque ele pode variar muito, considerando as condições de cada área e a necessidade do trabalho presencial. O Santander se comprometeu a ter sensibilidade com pais e mães cujos filhos ainda não tenham retornado para a escola, além de outras questões de mobilidade.
A COE discordou do retorno presencial tencionado pelo banco, pois entende que é um risco grande para todos os envolvidos, pois mesmo que a pessoa tenha tomado as duas doses, poderá não estar imunizada e poderá contaminar outras pessoas. Foi enfatizado que a variante delta está em circulação no território nacional, em alguns estados, já responde por 45% das contaminações, o que causa muita preocupação.
Essa discussão será retomada pelo Comando Nacional dos Bancários e pela Fenaban, mas a COE já sinalizou ao Santander o risco que ele assume ao obrigar os trabalhadores ao retorno presencial, e reforçou que, mais uma vez, o banco não ouve o movimento sindical, e nem os trabalhadores, que também expressam grande preocupação com o retorno.
“Ou seja, o banco ignora os riscos e preocupações e coloca esses trabalhadores em uma situação de risco permanente, quando nós sabemos que o trabalho remoto está funcionando muito bem”, afirma Lucimara.
WhatsApp Business
O Santander informou que está proibida a utilização do aplicativo WhatsApp Business para tratar de assuntos relacionados ao banco, devido a uma questão de segurança da informação. Também informou que o número de telefone fixo da mesa, que antes era no banco, agora foi transferido para os notebooks e computadores, e que disponibilizou um guia com orientações para utilização do WhatsApp, disponível na academia do Santander, para o caso de o bancário utilizar o aplicativo para conversar com o cliente.
O Sindicato, contudo, recomenda que os bancários não utilizem os WhatsApp para conversar com o cliente, porque isso envolve segurança da informação e uma porção de responsabilidades civis que podem resultar em responsabilização do trabalhador.
Diante dos riscos, o Sindicato orienta que os bancários utilizem apenas os canais institucionais disponibilizados pelo Santander. Caso o gestor continue pressionando para que faça atendimento pelo WhatsApp pessoal, ou para que permaneça utilizando o WhatsApp Business, os bancários devem denunciar ao Sindicato, que irá informar o RH para que oriente o gestor. A identidade do bancário que fizer a denúncia será mantida em sigilo.
“Essa pauta foi encaminhada ao banco no dia 22 de julho. O banco desmarcou negociação em duas ocasiões e hoje, finalmente, vem para a mesa de negociação sem respostas concretas e principalmente sem apresentar contrapropostas para os problemas colocados. Ele simplesmente nega que existe uma situação de insatisfação dos trabalhadores. O RH do banco continua pintando um quadro que não existe e que está cada vez mais distante da realidade dos trabalhadores. É um desrespeito com o movimento sindical e é um desrespeito com os trabalhadores que cada vez mais abandone a via negocial”, disparou Lucimara Malaquias.
A dirigente lembra da sentença que condenou o banco em R$ 50 milhões de reais por demissões na pandemia e por condutas antissindicais. No despacho, o juiz da 60ª Vara do Trabalho de SP, Jeronimo Azambuja Franco Neto, mencionou a obra Trabalhadores do mundo: Ensaios para uma História Global do Trabalho, do historiador holandês Marcel Van Der Linden.
“Nessa obra, a classe trabalhadora é definida por uma força centrípeta cuja base central para caracterização da subalternidade é definida pela ‘mercantilização coagida de sua força de trabalho’. A atuação sindical e a negociação coletiva são inversamente proporcionais à coação mercantilista: quanto menos atuação sindical e negociação coletiva, maior será a coação mercantilista – como no exemplo do trabalho escravizado.”
SEEB-SP