Apesar de representar 44% do total da força de trabalho do país, as mulheres são maioria entre os desempregados (55,5%). Elas ainda recebem, em média, 21% menos que os homens (o equivalente a R$ 2.305 para elas e a R$ 2.909 para eles). Esses são alguns destaques do Boletim Especial “8 de março, Dia da Mulher”, divulgado nesta segunda (6/3) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para o 3º trimestre de 2022.
Força de trabalho é um termo que representa todas as pessoas com 14 anos ou mais, ocupadas ou em busca de trabalho no país. O relatório do Dieese aponta também que, do total de mulheres ocupadas, a proporção de subocupadas, ou seja, que trabalham menos de 40 horas, mas gostariam de trabalhar mais, foi superior à dos homens: 7,8% delas estavam nessas condições, enquanto entre os homens, o percentual ficou em 5,1%. “Quando se analisa essa informação por cor/raça, nota-se que entre as negras, a situação é pior: o percentual de trabalhadoras negras subocupadas foi 9,3% maior do que o registrado entre as não negras”, continua a entidade.
Para acessar o boletim do Dieese na íntegra, clique aqui.
“A desigualdade de gênero no mercado de trabalho é uma das consequências da injustiça social”, destaca a secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Fernanda Lopes. “Então, assim como o relatório do Dieese coloca, o mercado de trabalho reafirma um desequilíbrio presente em todas as esferas sociais, sob a forma do machismo e do racismo”, completa.
O Dieese afirma ainda que, mesmo sendo ampla maioria em determinado setor, as mulheres recebem muito menos que os homens. Nos serviços domésticos por exemplo, enquanto elas representam 91% dos ocupados o salário é 20% menor que a média recebida pelos homens. Assim como no agrupamento educação, saúde e serviços sociais: enquanto elas totalizam 75% da força de trabalho, recebem em média 32% menos que os homens.
ARRANJOS FAMILIARES
Dos 75 milhões de lares no país, 50,8% são liderados por mulheres, o que corresponde a 38,1 milhões de famílias. As mulheres negras lideram 21,5 milhões de lares (56,5%) e as não negras, 16,6 milhões (43,5%).
No 3º trimestre de 2022, em termos de renda média do trabalho da família, na média, os domicílios de casais com e sem filho receberam os maiores valores (R$ 4.987 e R$ 4.898, respectivamente). Os menores valores foram registrados entre os domicílios monoparentais com chefia feminina (R$ 2.833) e unipessoais femininos (R$2.913). Famílias monoparentais são estruturas em que o pai ou a mãe, que não vive com companheiro ou cônjuge, é responsável pelo cuidado dos filhos menores de 18 anos, enquanto que domicílio unipessoal é quando um indivíduo vive sozinho.
Quando se olha por cor, a renda das famílias negras foi sempre menor que a das não negras, independentemente do arranjo familiar. No caso das famílias chefiadas por mulheres negras com filhos, a renda média foi de R$ 2.362.
“A desigualdade de gênero e raça/cor no mercado de trabalho afeta intensamente a qualidade de vida de todos os membros das famílias e impõe, muitas vezes, a necessidade da inserção precária de filhos e outros parentes, para compor a renda familiar”, alerta o Dieese. “Esse quadro faz com que seja perpetuada a situação de vulnerabilidade não só da mulher chefe de família, mas de todos os familiares, com a transferência de milhares de crianças e jovens da escola para o mercado de trabalho, para que contribuam com a renda da família”, completa.
DESAFIO ESTRUTURAL
A entidade observa no relatório que não houve avanços nos últimos anos para serem comemorados em 8 de março, Dia Internacional da Mulher. “As desigualdades apresentadas no mercado de trabalho refletem o machismo estrutural de uma sociedade em que as mulheres, que são a maioria da população, estão sub-representadas em todos os espaços, incluindo os espaços políticos e de poder”, destaca Fernanda Lopes. “Na apresentação do documento, o Dieese lembra que, nas eleições de 2022, apesar do aumento de candidaturas femininas ter sido de 33,3%, em relação às eleições anteriores, apenas 302 mulheres foram eleitas, contra 1.394 homens, nas esferas federal, estadual e distrital”, completa.
O Dieese observa ainda que os dados de sub-representação na política e os problemas vivenciados no mercado de trabalho somam-se à violência. Todos esses fatores “refletem a condição de desigualdade de gênero”. Segundo dados da Fórum Nacional de Segurança Pública, no primeiro semestre de 2022, 699 mulheres foram mortas em situações de violência doméstica ou devido a questões que envolvem desdém ou discriminação à condição de mulher, crime denominado de feminicídio.
Contraf-CUT