Nas negociações da Campanha Nacional Unificada dos Bancários 2024, mobilização da categoria pela renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), os banqueiros reiteradamente utilizam-se da narrativa de que a categoria bancária é “cara”, o que os prejudicariam na concorrência com instituições financeiras não bancárias como, por exemplo, as cooperativas de crédito e instituições de pagamentos.
De acordo com a narrativa da Fenaban (federação dos bancos), este seria o motivo para os bancos não valorizarem a categoria com aumento real. A última proposta apresentada pelos banqueiros foi um reajuste de 100% do INPC (zero de aumento real), que viria apenas em janeiro, o que representaria uma perda de R$ 1,2 bilhão para os trabalhadores, considerando salários, segunda parcela do 13º, vale alimentação, vale refeição e antecipação da PLR. O Comando Nacional dos Bancários rejeitou a proposta na mesa de negociação e deixou claro que não aceitará proposta sem aumento real.
“Os bancos, mesmo sendo um dos setores mais lucrativos da economia, querem culpar os direitos conquistados pelos bancários, a nossa Convenção Coletiva de Trabalho, pelo fechamento de agências e corte de postos de trabalho. Dizem que a categoria é cara e, desta forma, não podem concorrer com instituições financeiras não bancárias, que pagam menos aos seus trabalhadores”, diz a presidenta do Sindicato e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro.
“O que os bancos não contam é que apoiaram a reforma trabalhista, a terceirização irrestrita, o desmonte da Justiça do Trabalho. Foram os bancos que construíram as condições para que a concorrência, da qual se queixam, contratasse trabalhadores sem direitos e com remuneração menor. Foi a luta dos bancários que resguardou nossos direitos. Não permitiremos que os banqueiros tentem finalizar o serviço da desregulamentação total das relações de trabalho”, acrescenta a presidenta do Sindicato.
BANQUEIROS CHORAM COM OS BOLSOS CHEIOS
A narrativa dos banqueiros de que não podem valorizar os bancários com aumento real devido à concorrência com instituições financeiras não bancárias não se sustenta, principalmente quando analisados os números do setor financeiro como um todo.
Mesmo representando apenas 10% das empresas do setor, os bancos detêm 82% do mercado de crédito, 81% dos ativos do mercado financeiro, e 71% de todo o lucro.
Só no primeiro semestre deste ano, os cinco maiores bancos já lucraram R$ 60 bilhões, 15% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Matéria publicada no Valor Econômico mostra ainda que, na lista dos 10 maiores lucros no 2º trimestre, sete empresas são do setor financeiro, sendo cinco delas bancos: Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e BTG.
Além disso, mesmo que as despesas de pessoal dos bancos sejam superiores que as cooperativas e instituições de pagamento, as receitas dos bancos são 15 vezes maiores que das cooperativas e 123 vezes maiores que das instituições de pagamento, segundo dados dos balanços do 1º trimestre de 2024.
APOIADA PELOS BANCOS, REFORMA TRABALHISTA DESORGANIZOU O MERCADO
Sete anos após a reforma trabalhista, que incentivou a informalidade e a precarização das relações de trabalho, com a promessa de criação de 6 milhões de empregos, sete em cada dez brasileiros que trabalham como autônomos desejam um emprego com carteira assinada. É o que mostra uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV-Ibre).
“A reforma contribuiu para o aumento do trabalho flexível, mas poucos ganham bem, e preferem a CLT”, afirmou ao portal UOL o pesquisador da FGV Ibre, Rodolpho Tobler.
O pesquisador da FGV Ibre cita também a lei das terceirizações, aprovada também com o apoio dos banqueiros em 2017, que permitiu que empresas terceirizassem até mesmo a sua atividade principal. “A terceirização pode formalizar mais trabalhadores, mas paga ainda menos”.
“Ao enfraquecer sindicatos, limitar o acesso à Justiça e permitir que os empregadores negociem sem os sindicatos, a reforma desequilibrou as forças e aprofundou a desorganização do mercado de trabalho (…) Em um mercado mais vulnerável, crescem os contratos de tempo parcial e o trabalho por conta própria” avalia o professor de Economia da Unicamp, José Kari Kerin, em reportagem publicada pelo UOL.
EMPREGOS PROMETIDOS VIRARAM FUMAÇA
A criação dos seis milhões de empregos prometidos pelos defensores da reforma trabalhista, entre eles os banqueiros, não se concretizou. Em julho de 2017, quando a reforma foi aprovada, a taxa de desocupação estava em 12,9%. Nos anos seguintes se manteve próxima desse patamar até que, em março de 2021, chegou a 14,9%.
A taxa de desocupação só começou a baixar em 2022, e chegou ao seu nível mais baixo no segundo trimestre deste ano, 6,9% na média dos três meses, de acordo com o IBGE.
“A queda do desemprego não tem nada a ver com a reforma trabalhista. Tem muito mais a ver com a retomada do pós-pandemia e do aumento do salário mínimo, que amplia o consumo e melhora a atividade econômica, que gera empregos”, afirmou o professor José Kari Kerin na reportagem do UOL.
BANQUEIROS QUEREM NIVELAR POR BAIXO
De acordo com a presidenta do Sindicato, ao argumentarem que a categoria é “cara”, o que prejudicaria a concorrência com instituições financeiras não bancárias, o que os banqueiros pretendem é nivelar por baixo as relações de trabalho no setor financeiro.
“Os bancários, que resguardaram seus direitos com muita luta, não aceitarão que os bancos nivelem por baixo as relações de trabalho, igualando nossos empregos aos postos de trabalho precarizados pela reforma trabalhista. Pelo contrário, reivindicamos a representação de todos os trabalhadores do ramo financeiro. Somos uma categoria organizada nacionalmente, que une bancários de bancos públicos e privados, e não vamos aceitar proposta sem aumento real. Apresentamos dados que comprovam que os bancos podem sim valorizar a categoria. Contra fatos não há argumentos, muito menos narrativas falaciosas. Vai ter luta”, conclui Neiva Ribeiro.