Bancários e bancárias realizaram, em todo o país, nesta quarta-feira (24/7) o “Dia Nacional de Luta #MenosMetasMaisSaúde”, com ações nas redes sociais, nas ruas e agências contra modelo de gestão dos bancos que têm determinado condições de trabalho adoecedoras.
As manifestações acontecem um dia antes da quarta rodada de negociações da Campanha Nacional 2024, entre o Comando Nacional dos Bancários e a Comissão de Negociações da Federação Nacional dos Bancos (CN Fenaban), para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). A pauta do encontro será saúde e condições de trabalho, com foco na política de metas praticadas pelas empresas.
“Temos dados alarmantes e que mostram que as doenças mentais e comportamentais lideram os motivos por afastamentos previdenciários na categoria”, destaca o secretário de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Mauro Salles, fazendo referência a um levantamento do Dieese, com base em dados do INSS e da RAIS e que mostram que a categoria bancária foi responsável por 25% de todos afastamentos acidentários e por 4,3% de todos afastamentos previdenciários relacionados à saúde mental e comportamental, entre trabalhadoras e trabalhadores, em 2022.
Considerando apenas a categoria bancária, em 2022, as doenças mentais e comportamentais foram responsáveis por 40% dos afastamentos previdenciários e por 57,1% dos afastamentos acidentários.
Com isso, a taxa de afastamento acidentário na categoria ficou em 9,1 mil para cada mil vínculos empregatícios, em 2022, enquanto a média geral, considerando todas as categorias, foi de 2,0 para cada mil vínculos. Já a taxa de afastamento por auxílio previdenciário ficou em 31,1 para cada mil vínculos, contra 17,6 para cada mil vínculos, considerando todas as categorias do país.
“Nós temos dois trabalhos que apontam que as razões para esse quadro são a cobrança excessiva pelo cumprimento de metas e o modelo de gestão praticado pelos bancos, em nome do lucro e da produtividade”, completa Salles.
O primeiro trabalho a que se refere é a “Pesquisa Nacional da Contraf-CUT: modelos de gestão e patologias do trabalho bancário”, feita em parceria com o Instituto de Pesquisa e Estudos sobre Trabalho, da Universidade de Brasília (UnB), e divulgada em maio deste ano. Entre os resultados do levantamento feito com mais de 5.800 bancários estão:
– 76,5% relataram terem tido pelo menos um problema de saúde relacionado ao trabalho, no último ano.
– 40,2% dos respondentes estavam em acompanhamento psiquiátrico no momento da pesquisa.
– 54,5% indicaram o trabalho como principal motivo para buscar tratamento médico.
GESTÃO QUE ADOECE
O segundo trabalho que Salles destaca é a Consulta Nacional dos Bancários, feita neste ano com quase 47 mil trabalhadoras e trabalhadores da categoria, em todo o país.
Quando perguntados sobre os impactos das cobranças excessivas pelo cumprimento de metas, podendo escolher mais de uma opção, as principais respostas foram:
– 67% preocupação constante com o trabalho.
– 60% cansaço e fadiga constante.
– 53% desmotivação e sem vontade para ir trabalhar.
– 47% crises de ansiedade e pânico.
– 39% dificuldade de dormir, mesmo nos finais de semana.
A coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira, ressalta que é obrigação dos bancos o estabelecimento de um ambiente de trabalho saudável e sustentável.
“A saúde mental é uma prioridade e não pode continuar sendo sacrificada em nome de lucros. Só em 2023, os cinco maiores bancos do país lucraram R$ 108,6 bilhões. Mas, apesar do montante, nesse mesmo ano fecharam mais de 600 agências e demitiram mais de 2 mil funcionários. É uma lógica predatória, que visa o máximo de lucro, reduzindo o quadro de trabalhadores e sobrecarregando os que seguem contratados e que se submetem à gestão adoecedora, com medo de perderem seus empregos”, pontua.
DISCURSOS E PRÁTICAS DE CONTROLE
Outros resultados da “Pesquisa Nacional da Contraf-CUT: modelos de gestão e patologias do trabalho bancário” foram:
– 69,8% indicaram, no trabalho, a presença intensa de discursos e práticas com foco em metas, controle exacerbado e uso de ameaças como ferramentas de gestão.
– 58,8% a presença intensa de relações competitivas, com exclusão de funcionários na tomada de decisões, distribuição injusta e disputas estimuladas pela chefia.
– 88,7% a presença intensa de relações produtivistas que geram pressão sobre a vigilância de resultados e causam, no trabalhador, sentimento de insuficiência para a realização de tarefas.
“Entre as conclusões preocupantes da pesquisa está a urgência de intervenções para evitar o agravamento da saúde da categoria e prevenir situações de assédio e suicídio no trabalho”, destaca Mauro Salles.
Além do Dia Nacional de Luta, realizado hoje, nesta quinta-feira (25/7), a categoria realizará ações nas redes sociais das 9h30 às 11h30, com a hashtag #MenosMetasMaisSaúde. Um e-mail será enviado, ainda nesta quarta-feira, às entidades sindicais, com informações e materiais para o tuitaço.