Francisco Alexandre (*)
Como bem disse Tom Jobim, o Brasil não é país para amadores. Realmente não é, a cada dia o cidadão se depara com dificuldades e desafios para sobreviver. Desafios como o desemprego, violência, salário aviltante e, no último ano, um governo que mira sempre nos pobres como estes fossem a causa da miséria de que são vítimas.
Esta semana marcada pelas declarações do ministro da Fazenda, também banqueiro, chamando trabalhadores de parasitas e de que dólar deve subir para evitar que empregadas domésticas viagem ao exterior (leia-se pobres, pois esse é o sentido lato da fala), foi também o tempo da divulgação dos lucros dos bancos.
O sistema financeiro do país é perverso, ganha sempre. Nos últimos quatro anos, os ganhos dos três maiores bancos privados do país (Itaú, Bradesco e Santander) superaram R$ 260 bilhões, como mostra a tabela abaixo. Só em 2019 foram mais de R$ 81 bilhões. Quando o quesito é receita de serviços, o valor vai para as nuvens, com arrecadação de mais de R$ 440 bilhões nos quatro anos, dinheiro vindo das tarifas bancárias, anuidades de cartão de crédito, taxas de operações de crédito, pagamento de transferências e outros.
Com preços sempre mais altos, tornam-se fonte relevante dos bancos, ou seja, é a patuleia pagando taxas extorsivas, além dos juros abusivos, para compor os lucros dos banqueiros, os mesmos que se mantêm há séculos no andar de cima. O quadro mostra ainda que, enquanto a inflação no período foi de 17,6%, os ganhos líquidos dos bancos superaram 81% no mesmo período.
No quadro, o dado do Bolsa Família não está descolado nem fora do contexto. Serve para mostrar que o benefício pago para mais de 14 milhões de famílias, correspondente a aproximadamente 50 milhões de brasileiros, representa apenas 30% do que os três bancos ganharam em 2019, para aumentar ainda mais a riqueza de seus os proprietários, que são pouquíssimos.
Os dados abaixo servem para mostrar como os banqueiros entendem a responsabilidade socioambiental. Os ganhos aumentam, mas as agências e os pontos de atendimentos seguem fechando. Entre 2016 e 2019 foram fechados mais de 2.330 em todo o país. Mais de 2.300 municípios no país não têm uma agência bancária sequer, equivalente ao universo de 17 milhões de pessoas fora do sistema bancário. Há cidades que distam muitas vezes mais de 50 km, forçando as pessoas a realizarem deslocamentos em estradas e transportes inadequados e inseguros.
O nosso país é mesmo desigual, qualquer dado que se avalie mostra a necessidade de políticas públicas para diminuir o fosso existentes entre pobres e ricos do país. Os resultados dos lucros dos bancos, mostrados a cada balanço, revelam como é distribuída a riqueza e ganhos no país, pois o lucro dos bancos leva ainda dinheiro dos juros de 40% da dívida pública do país, ou R$ 1,7 trilhão.
A essas alturas é bem possível que os banqueiros já tenham recebido telefonemas de afagos do antigo parceiro de mercado sobre o resultado pujante dos três maiores conglomerados financeiros do país. Os proprietários desses bancos sim, eles, na visão do ministro, podem ir até morar no exterior. Por certo, como amigos antigos podem até ter trocado impressões do tipo: estão vendo, estamos colocando os pobres nos seus lugares.
Por qualquer lupa que se olhe o Brasil, é fácil perceber que há um grupo que suga a nação há séculos. Representa 1% ou 2% dos brasileiros, são esses que se alimentam sempre dos recursos públicos do país com benefícios fiscais, financiamentos a custo baixo, benefícios tributários e um sem números de leis aprovadas para favorecer grandes empresários, enquanto para o povo sobra o congelamento do imposto de renda, fazendo com que cada vez mais brasileiros paguem impostos.
As profundas desigualdades e os mecanismos de favorecimento e apropriação de recursos do país pelos do poder econômico, permitem concluir que não são os trabalhadores, e muito menos as domésticas, a causa da crise do país. O ministro da Fazendo, ex-banqueiro e representante deles no governo, erra o alvo ao atacar o povo. Ele bem poderia olhar no espelho para saber quem são os parasitas.
(*) Francisco Alexandre é ex-diretor eleito de Administração da Previ
Brasil 247