“A situação não está boa para ninguém, sobretudo para o pobre. A moeda desvalorizada prejudica quem come pão, quem usa combustível”, essa é uma das opiniões contundentes de Nathalia Rodrigues de Oliveira, que agora é reconhecida na rua pelo nome de seu canal no YouTube, o Nath Finanças. Ela foi a personagem da “Entrevista de 2ª” da Folha de S. Paulo desta segunda-feira (9).
Foi na faculdade que Nath começou a ter noção de como funciona o sistema financeiro. “Eu tinha uns 18, 19 anos e tinha começado a trabalhar fazendo cartão de loja. A maioria dos que vinham fazer o cartão era de baixa renda. Pessoas que ganhavam um salário mínimo e tinham cinco cartões de lojas com limites super altos. E as pessoas que ganhavam um pouco mais não queriam fazer cartão. Tive consciência financeira naquele momento. Depois comecei a estudar mais e me apaixonei pelo assunto.”
A jovem negra de 21 anos da Baixada Fluminense conquistou milhares de seguidores na internet com vídeos falando de forma descomplicada sobre economia. A moradora de Nova Iguaçu (RJ) quer dar noções de educação financeira para os que ganham pouco. “Os economistas falam para a própria bolha. Eles não falam para os pobres. A intenção é que o pobre continue ignorante e se endividando, sem questionar o sistema.”
Para ela, que fez técnico em administração e hoje cursa graduação na área e trabalha em uma empresa do setor, é preciso que os pobres saibam se o Produto Interno Bruto (PIB) está bom ou como o preço do dólar afeta o cotidiano. “Os discursos (da imprensa convencional) são liberais. Favorecem a camada de quem tem mais dinheiro, e não quem é pobre. A intenção sempre foi essa, que o pobre não entenda o economês e que ache que o PIB está bom.”
Um exemplo seria entender o impacto do coronavírus na economia para os mais pobres. “A alta do dólar afeta. Tem economista dizendo que dólar alto é bom, porque estão usando de artimanhas técnicas para não falar que estão fracassando, porque eles não querem que o pobre se rebele. Se o pobre entender que, com o dólar alto, o pão fica mais caro, ele vai se revoltar, porque é o que faz diferença no orçamento. A comida faz diferença, o combustível também. Se o combustível sobe, a passagem [do transporte público] sobe. Eles estão usando o coronavírus como forma de justificar os erros do governo. Os liberais usam isso para justificar seu fracasso.
Mesmo assim, ela acredita que não é culpa do brasileiro estar endividado. “A falta de emprego é o principal motivo, e o salário defasado. Não é culpa da pessoa estar endividada. Ela não teve educação financeira na escola, não teve matemática de uma forma voltada para sua realidade. Aprendeu como funciona Bhaskara, mas não entende juros simples e compostos. Salário, desemprego e falta de educação financeira são os motivos. Só agora querem implantar na escola pública, mas nós não sabemos como vai ser isso. O aluno de escola privada tem há tempos.”
Segundo a blogueira, é possível usar o crédito de forma consciente. “O crédito não é ruim. Quando usado de forma consciente, ajuda a realizar muita coisa, como sonhos que você não consegue pagar à vista porque ganha pouco. Mas quando a pessoa não tem controle financeiro e não entende os juros do cartão, ela vai se endividar. É o caso da maioria. Nunca aprendemos a usar crédito.”
Nath tem outro objetivo. “Tem a cultura do patriarcado. Somos ensinadas, há anos e até hoje, que o homem tem de controlar o dinheiro e trabalhar, e que a mulher tem de ficar em casa. Isso é cultural. Mas eu acho que vamos mudar o mundo.”
E uma das formas pode ser seu canal no Youtube, que foi criado quase sem querer. “Fui pesquisar na internet se havia conteúdo de educação financeira para pessoas como eu, que trabalham, estudam, ganham pouco e estão aprendendo a organizar seu dinheiro. Na internet vemos pessoas falando só para quem tem um pouco mais de grana. Como investir R$ 1.000 ou R$ 10 mil, mas não tem para quem ganha pouco. Mil reais é o salário de uma pessoa, era mais que meu salário, era o dobro. Aí falei: “Cara, vou criar um canal para falar sobre isso”. E eu falo numa linguagem acessível. O canal é para falar com pessoas como eu, que querem aprender a se organizar de uma forma simples. Mas não é só gente de baixa renda que me assiste.”
Os interessados podem seguir a Nath Finanças no Youtube, no Instagram e no Twitter.
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