Redução da jornada de trabalho de cinco dias para quatro dias semanais e reajustes nas verbas das cláusulas de Teletrabalho. Essas foram as reivindicações levadas pelo Comando Nacional dos Bancários à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), durante reunião que aconteceu nesta terça-feira, 2/7, no âmbito das negociações para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria.
Os trabalhadores apresentaram dados de pesquisas, com base em projetos pilotos, realizados dentro e fora do país, com impactos positivos na saúde física e mental de funcionários, na redução de faltas no trabalho, além de ganhos na produtividade e na receita das empresas.
No Brasil, a 4 Day Week Global iniciou testes em janeiro deste ano com 21 empresas. Resultados parciais do projeto mostram que 61,5% apresentaram melhoria na execução de projetos; 58,5% melhoria na criatividade e inovação; 44,4% melhoria na capacidade de cumprir prazos; e 33,3% na capacidade de angariar clientes.
Para os trabalhadores, os resultados parciais relevantes foram: 64,5% tiveram redução de exaustão frequente por causa do trabalho; 50% redução na insônia; 46,3% praticaram exercício mais de 3 vezes na semana; e 27,1% foi o aumento de quem dorme mais de 8 horas por noite.
A coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, ressaltou que a jornada de quatro dias semanais apareceu como prioridade para 42% dos trabalhadores que responderam à Consulta Nacional dos Bancários de 2024, somente atrás de manutenção de direitos (70%); emprego (49%) e combate ao assédio moral (45%).
“A redução da jornada, sem a redução salarial e com a manutenção da abertura dos bancos de segunda a sexta-feira, além de trazer impactos positivos na vida dos trabalhadores (com melhorias na saúde física e mental, menos esgotamento, insônia e fadiga), não impactaria na produtividade e na receita da empresa, pelo contrário, poderá até aumentar esses níveis. Além disso, é uma forma de democratizar os ganhos financeiros, obtidos com os avanços tecnológicos, porque tem potencial de gerar mais vagas para o setor”, explicou Juvandia.
POTENCIAL DE GERAÇÃO DE EMPREGOS
Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que a implementação da jornada de quatro dias, entre os bancários que hoje realizam a jornada de 37 horas semanais, teria o potencial de criar mais de 108 mil vagas no setor, ou 25% do total de vagas que existem atualmente.
Se a jornada reduzida fosse implementada entre os trabalhadores com jornada semanal de 30 horas, o potencial de geração de emprego seria de mais de 240 mil vagas, ou 55,5% do total que existe hoje.
Já se a redução da jornada fosse implementada apenas na área de TI dos bancos privados, o potencial de geração de empregos seria de mais de 7 mil, aumento 25% no volume atual de postos.
“Para além de todos esses dados, pesquisas apontam que a jornada reduzida para quatro dias semanais tem potencial de reduzir a emissão de gases de efeito estufa em até um quinto. Um novo mundo está se apresentando com a revolução tecnológica. Ou continuamos, como está, com redução de empregos e reforçando a crise ambiental. Ou tomamos medidas novas para enfrentar esses problemas, como a redução da jornada semanal, onde toda a sociedade ganha”, pontuou Juvandia.
PEDIDO DE PROJETO PILOTO
A também coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro, destacou a importância da redução da jornada para saúde.
“Nossa categoria é uma das que mais sofre com adoecimento mental, com doenças psicossomáticas. Com a implementação da jornada reduzida, o setor estaria dando um passo muito importante não só aos próprios bancos, mas também para a sociedade”, pontuou, reforçando que os bancos podem estabelecer, a partir destas negociações, um programa piloto. “Podemos ser pioneiros neste debate, com testes e avaliações em escala maior. Uma grande empresa, num setor como o bancário, que investe mais em tecnologia e capacitação, tem muito mais condições de tomar essa iniciativa”, completou Neiva.
Os representantes dos bancos afirmaram que vão levar o pedido para avaliação das direções das empresas.
TELETRABALHO
Os trabalhadores pediram à Fenaban o número de profissionais que hoje estão atuando em home office, seja no sistema híbrido ou totalmente remoto.
A Fenaban disse que no Brasil, atualmente, 33% dos bancários estão em teletrabalho, ou seja, 143 mil. Do total de bancários em teletrabalho, 91% estão no modelo híbrido e 9% no modelo totalmente remoto.
A Fenaban disse que não há garantia, sequer, de manutenção do percentual de pessoas em teletrabalho. O Comando respondeu reforçando a cobrança por ampliação do home office.
“Essa informação é preocupante, porque o teletrabalho é uma das grandes conquistas dos trabalhadores e que tem relação com a qualidade de vida. Vamos manter a nossa reivindicação para a proteção desse direito, porque existe uma demanda na categoria, inclusive de ampliação do trabalho remoto”, pontuou Juvandia Moreira.
VERBAS DO TELETRABALHO
O Comando Nacional reivindicou também a ampliação do valor da ajuda de custo, aos trabalhadores que atuam em home office. Na CCT de 2022, houve a conquista de ajuda de custo anual de R$ 1.036,80, com reajuste pelo INPC + 0,5% de ganho real em 2023, elevando o valor desde o ano passado para R$ 1.084,29/ano ou R$ 90,36/mês.
“Alguns itens que impactam no teletrabalho estão com inflação mais elevada que a média geral, por isso é preciso haver aumento do auxílio”, reiterou Juvandia Moreira.
Segundo relatório do Dieese, entre 2019 e 2023, os cinco maiores bancos do país reduziram as despesas administrativas (com aluguel, água, energia, gás, materiais, reparação, segurança e vigilância, por exemplo) em 17%. Somente entre 2022 e 2023, essa redução foi 3%.
Por outro lado, nos itens que impactam o teletrabalho na categoria, como despesas domésticas, ar-condicionado, aluguel e taxas, energia elétrica residencial e plano de telefonia móvel, aumentaram significativamente.
“Essa demanda sobre o reajuste na ajuda de custo para quem trabalha em home office é de extrema importância, principalmente para os trabalhadores do nosso estado, que fica numa região muito quente e que, inevitavelmente, transforma a utilização de ar condicionado em algo obrigatório, até mesmo para assegurar a saúde destes trabalhadores. Isto sem mencionar as demais despesas que o home office traz para estes bancários e bancárias”, enfatizou Ivone Colombo, presidenta do Sindicato dos Bancários e Trabalhadores do Ramo Financeiro de Rondônia (SEEB-RO) e membro do Comando Nacional dos Bancários.
MOBILIZAÇÕES
Após a reunião com a Fenaban, o Comando Nacional dos Bancários decidiu que irá organizar uma plenária entre os profissionais em teletrabalho. Além disso, orientou a manutenção de mobilizações sobre o tema, para reforçar as conquistas em teletrabalho e impedir a retirada de direitos por parte dos bancos.
CALENDÁRIO DAS PRÓXIMAS REUNIÕES
Julho
11/07 – Igualdade de oportunidades
18 e 25/07 – Saúde e condições de trabalho: incluindo discussões sobre pessoas com deficiência (PCDs), neurodivergentes e combate aos programas de metas abusivas
Agosto
6 e 13/08 – Cláusulas econômicas
20/08 – Em definição
27/08 – Em definição.