Apesar de não ser um país desenvolvido e enfrentar desafios para superar a desigualdade social, o Brasil é considerado um país caro para se viver e, isso, devido aos juros altos, que estão entre os mais caros do mundo.
“É importante que as pessoas entendam que se hoje você compra um carro financiado e acaba pagando por dois, três carros, ainda que leve pra casa apenas um, é por causa dos juros abusivos praticados pelo sistema bancário. Mas, esses altos juros são induzidos pela taxa Selic, estabelecida pelo Banco Central, por meio do Copom”, explica a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.
Selic é o nome oficial para a taxa básica de juros do Brasil, determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que se reúne a cada 45 dias para reavaliar o índice. Há pelo menos dois anos a entidade mantém a Selic com mais de dois dígitos, o que coloca o Brasil em segundo lugar no ranking mundial de juros reais (a diferença entre a taxa Selic e a inflação projetada).
“A Selic impacta nos juros cobrados em todo o sistema financeiro. Então, perceba, ao mesmo tempo que o Brasil tem hoje a segunda maior taxa de juros reais é também o segundo país com a maior taxa nos empréstimos bancários, em comparação com os países emergentes e da América Latina”, destaca o vice-presidente da Contraf-CUT, Vinícius Assumpção.
Atualmente, a taxa básica de juros do Brasil está em 13,25% ao ano. Assim, descontando a inflação, o juro real do país está em torno de 9,18%, perdendo apenas para a Argentina, onde o índice está em cerca de 9,36%.
“Por isso, financiar no Brasil é tão caro! E essa situação faz com que tudo fique mais caro para o nosso bolso, afinal, todo mundo que produz e compra depende do sistema financeiro e é impactado com o custo alto do crédito e que acaba sendo repassado para os produtos, como os alimentos”, completa Assumpção.
BC REFÉM DO MERCADO
A expectativa sobre o resultado da reunião do Copom, que será concluída hoje, 19/3, é de aumento de 1%, o que resultará em uma Selic de 14,25%.
“O Banco Central deveria ter responsabilidade para com a população, com a qualidade de vida, com o crescimento do país. Mas, não é isso que vem acontecendo. Quando os membros do Copom divulgam, em ata, que aumentam os juros por orientação do mercado, revelam que não existe autonomia, mas sim que são reféns de um pequeno grupo, do mercado, e que diz que é preciso controlar a inflação, porém essa inflação não é causada pela demanda, ou seja, pelo consumo exagerado da população, mas por fatores externos que deveriam ser resolvidos de outras formas e não sacrificando nosso poder de compra”, explicou Juvandia Moreira.
-JUROS, + EDUCAÇÃO
Os protestos contra a política monetária do Banco Central foram realizados em várias capitais e organizados pelas centrais sindicais. Em São Paulo, onde os atos ocorreram na Av. Paulista, movimentos sociais estudantis aderiram às manifestações, com cartazes chamando a atenção de quem passava sobre a importância do debate. Uma das mensagens era: “Juros: a camisa de força do Brasil”.
“O que esperávamos dessa convocatória das centrais sindicais era mais uma manifestação contrária à perspectiva do Banco Central em aumentar ainda mais a taxa básica de juros. E qual a boa surpresa encontrada? A participação, em grande número, de jovens estudantes, engrossando o protesto, entoando palavras de ordem contra a política monetária da entidade que insiste em seguir de forma totalmente descolada da realidade do povo trabalhador, da realidade de milhares de jovens estudantes que também são afetados pela alta taxa de juros”, observa o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale, que esteve na manifestação.
“O que o Banco Central vem praticando [em termos de política monetária] é contrário à política do governo, que quer a redução de juros. E isso porque influencia em tudo, na compra de imóveis, no crédito, no financiamento estudantil, pra faculdade, enfim, em tudo na vida do trabalhador”, destaca o secretário de Cultura da Contraf-CUT, Carlos Damarindo, que também esteve nas ruas. “Apesar de o nível de emprego estar aumentando no Brasil, os juros também estão. Ou seja, se por um lado o aumento do emprego é importante para que o trabalhador sane suas dívidas, pague seus compromissos, por outro lado, tem esses juros altíssimos que impossibilita a nossa vida”, completa.